Em 1900 surgiam as revistas Pulp (do inglês para o português, "Polpa" ou "Matéria"), que eram chamadas assim por serem feitas de um papel de baixa qualidade. Porém, o termo Pulp Fiction (Ficção de Polpa) foi dado para o fato de serem histórias de menor relevância ou absurdas (a maioria das histórias eram fatasiosas, de ficção ou romances policiais). “Matter” que inglês siginifica tanto “importância” quanto “matéria”, retorna ao termo “polpa”, e era usado em frases para classificar as Pulps. Nunca houve anseio artístico nas Pulps, o que é diferente dos outros tipos de entretenimento na época, podem até ser comparados ao antigo folhetim dos jornais aqui no Brasil.
Não só o material das Pulps, mas também suas histórias eram arrumadas de forma irregular, às vezes causava uma falta de cronologia, o que fazia o leitor ter de interpretar o enredo da história buscando os fatos do início que podia ser o meio ou o fim. Às vezes eram vários contos interrelacionados também de forma não cronológica.
No final da década de 1980 para o início da de 1990 Quentin Tarantino e Roger Avary, dois apiaxonados pelas Pulps, resolveram criar as suas. Tarantino teve de vender os direitos autorais de uma de suas histórias para poder ganhar algum lucro, mas logo depois veio a lançar um filme sobre uma delas chamado, Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), o filme foi bem elogiado e logo Tarantino pôde filmar três de suas histórias " Vincent Vega and Marsellus Wallace's Wife" (Vincent Vega e a Mulher de Marsellus Wallace), "The Gold Watch" (O Relógio de Ouro) e "The Bonnie Situation" (O Caso Bonnie), em um filme só chamado Pulp Fiction (no Brasil, Pulp Fiction – Tempo de Violência), que é de longe o melhor filme do diretor.
O filme faz relação com as resvistas Pulp nos diálogos do personagens, pois estes normalmente não tem a ver com a história (sem importância) e simplesmente servem como um artifício para distinguir a personalidade dos personagens.
Em Pulp Fiction todas as histórias estão entrelaçadas assim como as Pulps. O filme começa fazendo uma breve referência ao final, este é o meio da história, isso para corroborar o fato da acronologia da trama.
Um fato que me chamou atenção em Pulp Fiction é que nenhum dos filmes, ou livros, enfim, qualquer historia que nos contam nunca tem um começo. Se você parar e tentar desembaralhar as partes do roteiro, você pode até encontrar onde deveria iniciar o filme, mas você facilmente perceberá que não é o começo da história. Antes disso algo deveria ter sido contado. Uma das teorias, que foi apresentada no documentário Tarantino’s Mind, e que faz muito sentido, é que Pulp Fiction é a segunda parte de Cães de Aluguel, neste, um bando assalta uma joalheria e depois de vários confrontos num galpão, apenas um deles sai vivo e com a maleta das joias. No início de Pulp Fiction, Vincent Vega (John Travolta renascido) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), dois gangsters, estão indo buscar uma maleta cujo conteúdo não aparece durante o filme, apenas um brilho muito forte.
No filme se sente uma certa empatia pelos personagens, porém não é exatamente o que você faria no lugar deles. Aqueles que parecem ser os mais legais do filme que tem atitudes comuns como de qualquer outra pessoa, o provável mocinho, são justamente aqueles que vão matar alguém sem nenhum escrúpulo ou reclamar dos miolos de outro no carro, e ainda tomar café da manhã depois de tudo. Muitos disseram que Tarantino quis mostrar que mesmo assassinos tem vidas. Esta ideia pode ser redirecionada para o fato de hoje ser assim mesmo, todos tem de ganhar dinheiro de alguma forma e não é uma vida humana que deve atrapalhar essa posse.
Vincent (Travolta) e Jules (Jackson) na casa de Jimmie (Tarantino) no episódio Bonnie Situation
Além do toque pensativo, o filme também traz diversas referências a outros filmes e séries da década de 1970, assim como todos os filmes de Tarantino. E o filme parece mesmo ser dos anos setenta. Outro grande fator, exclusivo nos filmes do diretor, é o humor negro, aquelas piadinhas que você – caso seja um falso moralista – não riria, mas que é engraçado de qualquer forma. Para aqueles que se sentem ofendidos facilmente, este não é um bom filme, mas para quem sabe distinguir realidade de ficção e ainda assim conseguir intertextualizá-las de forma dinâmica e sagaz, este é um ótimo filme. Na minha opinião o melhor filme de 1994*.
Gosto da questão de ser um filme tão diferente que não há uma forma correta de generalizá-lo. Não sei dizer se é ação, comédia, drama, pois possui de tudo, porém nenhum deles em destaque maior. Nos DVDs aparece como ação ou policial, mas não concordo nem um pouco. É mesmo um filme Tarantino, classificação por autor. Outro bom aspecto que me chama atenção em todo e qualquer filme é a classificação indicativa. Quando vejo um filme para maiores de dezoito anos eu penso logo, ou é um filme visceral, ou foi realizado sem pretensão de conquistar maiores audiências. Pulp Fiction se enquadra no segundo. Se James Cameron dirgisse Pulp Fiction, ele cairia para doze anos na primeira proposta de aumentar os fundos.
Pulp Fiction Ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, coisa difícil hoje em dia onde tudo é baseado ou adaptado de alguma outra história. Recebeu também o prêmio máximo do Festival de Cannes, a Palma de Ouro.
Pulp Fiction é um filme estadunidense de gênero indeterminado. O filme foi lançado em 1994 no Festival de Cannes. Foi realizado pela Miramax Films, A Band Apart e Jersey Films. Foi dirigido por Quentin Tarantino que trabalhou também no elenco como Jimmie, e teve roteiro escrito também por Tarantino e por Roger Avary. Teve a classificação R nos Estados Unidos (Rated R: inapropriado para menores desacompanhados de responsável maior) e a de 18 anos aqui no Brasil.
- FICHA TÉCNICA -
- Nome original: Pulp Fiction
- Gênero: (indeterminado)
- Tema: Crime (talvez)
- Duração: aproximadamente 154 minutos (2 horas e 34 minutos)
- Lançamento: 1994
- Origem: Estados Unidos
- Idioma: Inglês
- Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos
- Inadequações: Violência (assassinato, agressão física, agressão verbal, crueldade e estupro), consumo de drogas lícitas (cigarro, charuto e álcool) e ilícitas (maconha, cocaína, heroína), desvirtuamento de valores (racismo, machismo) e temática inapropriada.
- Realização: Miramax Films, A Band Apart e Jersey Films
- Direção: Quentin Tarantino
- Roteiro: Quentin Tarantino, Roger Avary
- Produção: Lawrence Bender
- Elenco: Samuel L. Jackson, John Travolta, Uma Thurman, Harvey Keitel, Tim Roth, Amanda Plummer, Maria de Medeiros, Ving Rhames, Eric Stoltz, Rosanna Arquette, Christopher Walken, Bruce Willis, Paul Calderon, Steve Buscemi, Quentin Tarantino
“The path of the righteous man is beset on all sides by the iniquities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he who in the name of charity and goodwill shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon thee."
(Jules Winnfield antes de matar algum desgraçado)
* O Oscar de Melhor Filme de 1994 para foi para Forrest Gump – O Contador de Histórias em 1995 no 67º Festival de Premiação do Oscar. Eu sei que devia pôr “Melhor de 1995”, mas os filmes são de 1994...