terça-feira, 8 de novembro de 2011

Um Encontro Com Adão e Eva


Um Encontro com Adão e Eva

Dentro de minha mente soa uma vontade terrível de caminhar pela minha cidade infestada de um pessoal incrivelmente repugnante. A vontade deriva do fato de ser mais de meia-noite; o pessoal repugnante já adentrou seus "lares" e eu escapo do meu.
Vamos dar um passeio em meio à escuridão e a perda de noção. Noção do perigo. Lá fora os drogado esperam inutilmente por uma razão de viver. Crack. Eu passo por eles sem dar a mínima ao cheiro.
Não tomei banho mesmo. Volta e meia um vem me assaltar. Machuco sua perseverança advertindo-lhe que mal tenho as poucas roupas que uso.
Continuo meu rumo finito ao infinito de minha mente. Mas pareço parado do que andando, quando vejo estou correndo. Mas aonde? Por onde? Por quê? Quero nem saber!
Paro quando minhas pernas acusam não dor, mas insatisfação. Respeito seu desejo. Não sou eu o dono delas, mas sim o cansaço.
Quero dar uma olhada naquela faixa fútil de luz que surge do nada de uma casa parecida com a minha.
Aqui era um manicômio.
Aqui eu deveria ter nascido.
Sou um estranho nesta cidade.
Lá dentro uma lanterna piscava no chão, clamando por alcalinas. Ao seu lado, uma imagem fosca de um braço que ia e vinha. Por cima dele uma carne podre entrava e saía de outra podridão. A primeira dizia “não devia ter entrado, sua putinha”, a segunda gemia. Na porta do prédio várias marcas de grafite e tinta exclamavam a proposta de uma “boa foda às 3:33 da manhã”.
O caminho termina na beira da praia. Pela orla de meu olho esquerdo vejo dois novos corpos que caminham juntos, um com o braço canhoto em volta do ombro do outro terminando com a mão no seio esquerdo do outro.
Ele a beija, ele diz que a ama, mas seu nariz ergue-se acima das nuvens. Seu amor é orgulho. Não de ter uma das meninas mais lindas que já vi, mas de ter sua “masculinidade” comprovada, pois ele a tem, seu braço a puxa e se apóia durante a caminhada, mas não a ajuda a caminhar; ele a possui e olha para a próxima que passa por eles, ela não liga, pois sabe que o ama muito para deixá-lo, e por isso ele olha, pois ela sempre vai estar lá como um estepe.
Mas num milésimo de segundo enquanto passam por mim, o olhar frágil, triste e confuso da bela garota, escala na minha direção e se fixa no meu olhar. Seus orbes penetram no meu, e eu transpasso a ela tudo o que pensei por ter deixado seu olhar transpassar a mim sua posição em relação àquela relação. Ela se envergonha.
Ele parte para cima de mim, gritando, impondo-se a si mesmo um caráter patético de macho. Eu nada digo. Apenas deixo o recinto em plena audição. Sempre fiz isso.
Não lutei por mim mesmo, por que lutaria por ela?
Ele continua a gritar e dá uma tapa nela chamando-a de vadia.
E então respondo a mim mesmo que a amo.
Espatifo a imagem do patife contra o chão feito de areia.
Lá mesmo ele se enterra.
Ela pede socorro. Ela corre.
Ainda assim, não sou merecedor de um pouco de amor. Fervo diante da ideia. É a manhã se aproximando de novo, querendo com o sol iluminar minha idiotice e revelar a hipocrisia dos que estão para acordar, não quero estar aqui para ver, sou só mais um deles que resolveu sair à noite, que resolveu agir inutilmente por uma causa além da sua própria. Vamos lá dormir de novo. Vamos sonhar mais um pouco. E chamar tudo que é diferente de louco.


Ted/Lucas
Novembro 8º, 2011

© Messed Room

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